Quadrinhos, ilustrações, tirinhas, textos.... enfim, arte. Um louco e suas loucuras.
Daniel Dias

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terça-feira, 9 de abril de 2013

Cabeça de Parafuso: como é bom ter grana e fama...

O Incrível Cabeça de Parafuso

Ontem li minha recém comprada edição de "O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos" do Mike Mignola.

Gosto muito do Mignola. Acho sua arte simplesmente fantástica! Simples, mas fantástica.

Sua habilidade em usar sombras e sua obsessão por steampunk [ambientação vitoriana e tecnologia avançada com equipamentos arcáicos] me fascinam!  Um traço único, com uma arte belíssima.

Ele é um dos artistas que eu invejo a arte, que eu gostaria de desenhar igual. Um dos poucos. Pouquíssimos.

Suas histórias não tão pesadas, curiosamente, me agradam. Apesar de minha predileção por temas mais obscuros, mais exagerados, sempre me agradam as histórias do Mignola. Por isso, apesar do preço alto desta edição encadernada lançada pela Nemo, gastei meus trocados com gosto.

Qual o propósito deste texto, então?

Simples. Uma constatação triste de como o mundo é.

Não é surpresa pra ninguém que o dinheiro dita as regras no nosso mundo. E não seria diferente no mercado do entretenimento. Quadrinhos são uma forma de arte? Sim. Mas também são um ramo comercial. Esqueça as fantasias.

Enfrentemos os fatos. Ser bom não basta. Ser bom nem sequer é necessário. Se tem alguém que possa vender sua ideia, pronto. O resto é resto.

Quantas ideias geniais não morreram dentro da cabeça de inúmeros anônimos? E quantas ideias, pra não ser duro demais, banais e corriqueiras não são vendidas como revolucionárias?

É triste, mas é a realidade.

E esta edição especial traz uma história que ilustra bem o fato, de que, vale mais alguém que tenha poder de por sua obra no mercado que ter uma obra que de fato se sobressaia do mar de mesmice que é o mainstream.


Cobrinha ganhadora do Eisner...

A história de que estou falando é a terceira do encadernado. "O Mágico e a Cobra". A história é de Katie Mignola, filha de sete anos [quando da criação da história] do Mike

Sejamos francos, esta história jamais seria publicada se não fosse o fato da menina ser filha do Mignola. Aliás, a história jamais teria saído dos devaneios de uma menina que estava na escola fazendo um desenho e imaginando uma história pra ele.

Por que esta história veio ao mundo dos quadrinhos mainstream? Mignola, solicitado para criar uma história para compor uma antologia, uma história que não fosse do Hellboy, sem ideias, ouviu sua filha contar na volta da escola a história de um desenho que tinha feito. Pronto.

OK, a história não é ruim. Também não oferece nada. Simples, previsível, comum. O que podemos destacar é que, talvez, a maioria das crianças nesta idade não façam história com começo, meio e fim. Mas a garota também é filha de um escritor de histórias, que certamente contava muitas histórias pra ela. Ou seja, seu feito não é nada especial.

Mignola desenhou a história. Ser publicada ou não dependeria da aprovação da editora da coletânea. Claro que seria, não? Algo desenhado pelo Mignola, só seu nome já garantiria mais vendas para a coletânea.

Nem esse é o ponto mais grave. A história é, no mínimo, não feliz. A coletânea em que ela foi publicada chama-se Happy Endings [Finais Felizes]. Irônico, não? Não bastasse isso, a história ganhou o Eisner [sim, aquela frase batida, "o Oscar das histórias em quadrinhos"] de Melhor História Curta!

Sério, qual a chance disso acontecer se ela não fosse filha de quem é? E, sinceramente, será que não houve nenhuma história curta melhor naquele ano, mesmo que entre os menos favorecidos pelo mercado?